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CÍRCULO INTERNACIONAL ITINERANTE DE CRÍTICA TEATRAL - CICRIT
REVISTA BOCA DE CENA 2011

Autores. Adys González de la Rosa e Juan José Santillán.

Tradução. Luis Alonso-Aude

O Círculo Internacional Itinerante de Crítica Teatral (CICRIT) nasceu como iniciativa da Editora Tablas-Alarcos de Cuba, com direção de Omar Valiño que propôs a idéia de começarmos a trabalhar, pensarmos na forma de construir os encontros, os participantes, os espaços nos quais poderia acontecer, integrando outros eventos ou de forma autônoma. As bases de funcionamento foram estabelecidas, partindo no início de uma prática comum realizada nos festivais cubanos, onde aconteciam os “Encontros com a Crítica” e, em segundo lugar de uma sólida tradição relacionada com os estudos teatrais, gestada desde o Instituto Superior de Arte de Havana (ISA) e fortalecida pelos grupos nos quais os críticos não exercem somente a análise acadêmica ou jornalística, mas que se convertem em “gente de teatro”, seu trabalho está muito ligado ao ato criativo, participam como assessores de espetáculos e em muitos casos, de grupos, fazendo parte e/ou guiando determinadas estéticas e processos de trabalho. Esta particularidade define um modo de conceber o teatro e relacionar-se com ele, enquanto sua dialética criativa, o diálogo com os artistas (atores, diretores, dramaturgos…) e a provocação desde outro lugar menos “sagrado” que o pedestal no qual o crítico se coloca habitualmente. Sabíamos que era um imenso desafio, até pelo fato de termos proposto que o projeto tivesse lugar também fora da ilha, confrontando-o com outros modelos, procurando não estabelecer uma fórmula, mas um diálogo entre criadores e críticos.

Ficou claro que o CICRIT seria um projeto de trabalho, essencialmente ibero-americano, direcionado a referendar o valor da crítica teatral, como parte indissolúvel do ato teatral que funcionaria como um núcleo espontâneo e independente de críticos e especialistas teatrais de distintos países. Seus integrantes e funcionamento seriam reconhecidos no desenvolvimento da crítica jornalística e no campo da investigação acadêmica. Por último convocaríamos sessões nos festivais internacionais ou no desenvolvimento de iniciativas em conjunto com outras entidades ou grupos.

O propósito de cada encontro é de concretizar o intercâmbio entre fazedores e pensadores do teatro sem divisões excludentes de tendências e métodos. Nossa premissa é exercer um trabalho de reflexão, com base no eixo de conhecimento mútuo que as partes podem produzir em conjunto.

As sessões do CICRIT procuram estabelecer um diálogo entre criadores e críticos, do qual surja uma experiência sobre o papel e a função da crítica teatral em um contexto determinado.

II

           O primeiro encontro aconteceu no Festival Internacional de Teatro Experimental de Quito (FITE-Q 2007).  Uma experiência como esta não tinha similares antecedentes no teatro equatoriano. Dela derivou um grande fluxo de conhecimento mútuo entre críticos e criadores: o saldo mais duradouro desta iniciativa. O projeto funcionou de maneira orgânica, demonstrando na prática sua validade e continuidade possível em outros espaços similares.      A segunda sessão do CICRIT aconteceu sob o lema: “Teatralidade, discurso crítico e mídias. Encontro ibero-americano de críticos e investigadores de teatro”, entre os dias 17 e 23 de julho de 2008, esta nova estação, que começou a gestar-se no Equador foi concretizando-se desde Buenos Aires. Isso era atraente para o projeto e difícil de imaginar em seu início. Tratava-se de abordar, confrontar, inserir-se, dialogar com esta cidade, considerada uma das praças de teatro mais importantes a nível internacional, tanto pela quantidade e concentração de produções realizadas a cada temporada, como pela qualidade e o prestígio de seus criadores.

           Para a sessão de trabalho na Argentina, a organização do evento propôs atividades de intercâmbio com gente de teatro e críticos nacionais e ibero-americanos. Neste ponto, o CICRIT planeja uma continuidade do seu projeto seguindo a dinâmica de diálogo e intercâmbio que tinha sido iniciada em sua edição anterior, mas adequando-se às características do encontro, que funcionaria de maneira autônoma, sem um festival no qual estivesse inserido e, portanto, com maior ênfase nas mesas de trabalho e discussão com profissionais do mundo acadêmico, jornalístico e teatral. O encontro,com expressiva presença ibero-americana (nesta ocasião se incorporaram outros críticos da Argentina, Espanha e Uruguai), possibilitou refletir e aproximar-nos de um fragmento da produção teatral argentina. Nos concentramos, fundamentalmente, nos circuitos alternativos propiciando seu intercâmbio com os críticos estrangeiros, assim como a confrontação destes com a crítica argentina.

III

A sessão do Círculo Internacional Itinerante de Crítica Teatral em Buenos Aires, marcou uma instância de diálogo, não percorrida há vários anos, entre críticos e investigadores na Argentina onde a reflexão em torno do teatro teceu seus matizes e características de identidade. Os críticos de teatro que trabalham nos veículos possuem, indubitavelmente, uma condição que se distancia do gregário. Não acontece o mesmo no plano dos investigadores. Quem sabe, nesta substancial diferença se inserem vários aspectos, principalmente o fator tempo entre a execução de uma e outra disciplina, que estabelecem distâncias entre as duas práticas. Pensar a conjugação entre ambas as partes, foi um dos eixos do CICRIT. Outro, o intercâmbio entre criadores e a crítica teatral.

Os críticos como nós que trabalhamos nos meios de comunicação, nos encontramos na cobertura de festivais, festas nacionais de teatro, na fila antes de ingressar em uma sala; e é mais provável que nos contatemos circunstancialmente e fora de Buenos Aires que em um encontro que aprofunde outro tipo de intercâmbio. As razões podem ser múltiplas e tão particulares como ilimitadas. Quem sabe, devido ao ritmo das jornadas, a velocidade de uma escrita e um exercício da crítica nos meios que poucas vezes se observa em um contexto mais além da individualidade.

Nesse ponto, como se define a figura do crítico teatral? Esse encontro expôs certas problemáticas ou limitações para reconhecer o exercício da crítica. Para isso, foi substancial a convocação de críticos de teatro, tanto acadêmicos como jornalistas. Nos propusemos a reconhecer, por exemplo, desde a crítica jornalística, certa zona do ofício trilhada por seus fazedores. E assim redefinir seu lugar, seu espaço de ação, assim como o formato e metodologia onde se insere seu trabalho. Quais são os alcances, ressonâncias, limitações da crítica teatral em nosso contexto de produção? Existe ainda o crítico teatral? Em que condições de trabalho se desenvolve sua prática? Quais são, se ainda opera sobre eles, seus espaços de legitimação? Qual é a relação entre as características desta escrita e o fato teatral?

           Algumas destas questões foram delineadas no segundo encontro CICRIT. O resultado, em parte, são alguns dos trabalhos que integram esta revista “Boca de Cena”. Também a instância concreta de um reconhecimento entre distintas maneiras e formas de pensar o teatro: desde uma parcela acadêmica, passando pela prática jornalística e os meios eletrônicos. Pensamos uma crítica que estabeleça uma relação entre uma economia que se manifesta, não só na austeridade dos recursos com que se conta, mas também nas limitações particulares que temos para esboçar o que conjecturamos. Ainda assim, isto foi um obstáculo para concretizar a qualidade desta sessão, desde os aspectos que nos convocaram: “Teatralidade, discurso crítico e mídias”. Neste espaço de diversidade, se montou a programação de espetáculos. E abriu-se um arco que conteve desde o teatro comunitário, com El casamiento de Anita y Mirko até um kamishibai (teatro de papel), mediante a adaptação do relato Nieve, de Kawabata. A proposta foi provocar um encontro para confrontar nossas práticas, devido à necessidade de repensar certas coordenadas vinculadas à trajetória de um ofício e a situação com que se exerce esta forma de pensamento que acompanha o acontecimento teatral.

Buenos Aires/2008

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REVISTA BOCA DE CENA. ISSN-2179 2402

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